O mar é a minha casa

nem tão profundo
para que eu possa me afundar
nem tão distante
para se fazer morada
em qualquer lugar
pois és, meu mar,
a minha casa
longe dele não posso estar
tantos sonhos nós já criamos
tantos castelos já levantei
tantos mergulhos a ti lancei
tantas ondas já abracei
tantas coisas você guarda, oh mar
guarde os meus versos que criei
pois você se faz morada
e em teu sal me encontrei
tal como o sol que te visita
deixe-me ir morar com você
eu sei, sou tão pequenino
uma pedra não cabe nas mãos
mas em tuas águas sou eterno
mas em tuas águas só há paixão
deixe-me ir ao teu encontro
unido ao céu nós estaremos
unido ao céu nós viveremos
sal e luz encontrarei...

Eu quero a liberdade

Eu quero a liberdade de navegar sem medo numa segunda-feira qualquer. Eu quero a liberdade de ser quem sou, como um peixe nada livre sem direção. Eu quero a liberdade de ser criança quando eu quiser ser, de ser adulto quando eu crescer. Eu quero a liberdade de ser mar, ora cheio, ora vazio, sem avisar e preencher tudo aquilo que vazio está. Eu quero a liberdade de escolher, entre viver ou sobreviver. Eu quero a liberdade de enxergar e ir além do olhar. Eu quero a liberdade de dançar, na rua, na no mar, a qualquer hora, em qualquer lugar. Eu quero a liberdade de não possuir nada, livre do que não me pertence além dos bons sentimentos. Eu quero a liberdade de andar por caminhos não trilhados e descobrir o que o mundo tem a me apresentar. Eu quero a liberdade de amar da forma mais sincera, sem burocracia ou formas para poder julgar. Eu quero a liberdade pois ela me pertence, e uma vez descoberta, não posso mais viver sem ela.

Você é poesia

Sabe, estava aqui a rabiscar, olhando as tuas fotos as quais me fizeram lembrar os princípios que me levaram até você. Primeira estrofe: o teu olhar, cujo me alcançou e eu não pude evitar. Enigmático, pouco conclusivo, invasivo. Despiu minha alma sem ousadia, contrariando as vontades de outro dia. Seu olhar é poesia. Quando você me toca, sutil, sem querer ser visto, com todo sentido, ainda assim contido, o seu toque é poesia. Quando você chega com luz corrente, iluminando o meu ser e quem está presente, sua chegada é poesia. Quando você sorri, com tanta importância, com a inocência de uma criança, não posso me conter. Por tão pouco tempo consegui tê-lo, por tão pouco tempo fui motivo dele. É o teu sorriso pleno, radiante como uma estrela sonhada em ver. Seu sorriso é poesia. Então, quando te encontro, meu coração se alegra. Quando você fala, meu coração se agita. Quando você observa, meu coração resmunga por sua atenção, para ir ao teu encontro. E quando você fala... o meu mundo para. Para te ouvir, para te escutar, para exaltar o que tens a dizer. Tal fala me acalma, suspira sua alma, tão doce, chegando plena até mim. Sua voz é poesia. Observo o seu andar, o seu agir, e cada passo me faz perceber a perfeita silhueta que seu corpo forma. Desde os seus cabelos negros até os seus bonitos sapatos, exala leveza. Não me pertence, mas adoraria fazer das tuas curvas, poesias minhas. Sim, seu corpo é poesia. E é sentindo o seu cheiro que me elevo. Além dos perfumes industrializados ou das diversas flores que você poderia conter. Ele me atrai, enerva, desperta para tê-lo cada vez mais. O seu cheiro é poesia. Ah, e o seu beijo... Um mistério ainda não descoberto o qual sonho em conseguir. Reunindo todos os sentidos, ao tocar a sua face, sentir o teu cheiro, percorrer os teus cabelos, seu pescoço, seu corpo... experimentar os teus lábios, bem como buscar o que cada poro da sua língua tem a falar no silêncio de nossas bocas. Ouvir cada palavra sua ao pedir cada vez mais. Seu beijo é poesia. Por fim, a tua alma. Tão doce e serena que resplandece em todo o seu ser. Tão leve e gigante que não pode se esconder. Tão proativa e determinada contagiando o que for fazer. Sua alma é a mais bela poesia. Quem me dera fosse minha. Quem me dera esse prazer. Desvendar todo o seu ser e descobrir mil poesias em você. Sem me esforçar ou me debruçar, bastaria te observar. Tudo o que te envolve é poesia. Ao contrário do que pensas, não iria me cansar, pois cultivar os sentimentos através das palavras é uma das formas mais belas de amar.

Preces ao vento

tic tac
tic tac
tic tac
tic tac

O relógio pulsava
(massacrante)
e o vento uivava
(a todo instante)
para ser notado
como um lobo livre na madrugada.

dizia o vento estar cansado
de andar tão parado
como no verão passado

e então
invadiu o meu quarto
farejou, me encarou
e encontrou solidão
sobretudo abraçada
sem ser arrancada
presa sobre as minhas mãos
amor de outra estação

como amado fiel
o vento avançou
as mãos desejadas tocou
e nada adiantou

como amado carente
desceu rapidamente
arrepiando os meus poros
encontrando os meus olhos

já não podia hesitar
nem poderia mesmo falar
estava tudo ali
a liberdade dependia de si
a liberdade me pertencia
assim como aquele amor,
eu sabia.

ainda tão humano
ainda tão fraco
no vento encontrei a minha verdade
as chaves me pertenciam
e dali, só eu poderia me soltar

todavia, o vento já andava de saída
e ele não poderia demorar
restou, então, me levantar
e poder acompanhar
sob o canto das minhas preces

me leva ao teu céu
me leva ao teu sol
me leva além das vistas
me leva às tuas estrelas preferidas

me leve tão leve
me leve sem compromisso
me leve entregue
me leve e me ame.